terça-feira, maio 21, 2013

Brilho em P&B

- tOc, ToC - bateu na porta.

-Pois não, quem é? O que deseja? - ela abriu devagar.

A surpresa do encontro não fora à toa. Fazia tanto tempo desde a última vez que se viram. Era uma correria danada, essa vida maluca que cria tantos obstáculos às pequenas coisas.

-Posso te dar um abraço? - perguntou o passante.

Fazia tempo desde a última vez, embora essa exatidão não significasse o mesmo para cada um. O tempo é como o vento para o ciclista, passa na velocidade que ele ganha com as pedaladas.

- Posso te dar um abraço? - repetiu a pergunta.

Muda, ela fitava a mendiga figura com tristeza e amor. Tinha curiosidade e olhos cheios d'água. Não se lembrava de onde conhecera aquele sujeito, mas sabia que sabia quem era. Sabia que, de conhecido ele passara a estranho em curta memória.

Aceitou o abraço. O rapaz vestia trapos, cheirava mal e ainda assim, ela não percebera nada disso. Estava atenta ao rosto sujo, que lhe trazia uma inexplicável melancolia de anos atrás. Ainda agarrados um ao outro, o rapaz perguntou:

- Lembra a última vez? Também foi na porta da tua casa...

Como num estalo a memória daquele dia batera agudamente sobre a cabeça dela. O mendigo estivera ali há cinco anos. Mas não era a mesma pessoa... era?

- Tanta coisa aconteceu, minha irmã. Vim mesmo te abraçar, pequena.

Os olhos já não aguentavam a pressão das lágrimas. Do rosto dela, as gotas trouxeram os dias que passaram. Não estavam mais abraçados. O rapaz ainda falou:

-Posso te contar tudo? - tinha a voz fraca e calma, insistente.

Ela confirmou, ainda muda, perplexa. Como nos velhos tempos, os dois, duas crianças mais uma vez, sentaram na calçada. Era noite e as pequenas estrelas eram ofuscadas pela luz do poste. Por mais tarde que ficasse não se despediam. A cada minuto mais um abraço, queriam viver tudo que não fora.

Como o tempo tem essa força? Ele esconde o conhecido, revela o desconhecido... Num repente o mendigo se tornara a própria vida, vindo avisá-la da fisionomia do tempo. As cores do rosto que ela conhecera estavam pálidas, naquele rapaz magro e mal vestido. Não eram mais nítidas, muito menos vivas. Mas havia uma coisa, algo singular. O brilho nele, o rosto dele brilhava... só pode ter sido!

O brilho, mesmo que não fosse o de outrora, das brincadeiras de rua e pequenas salas de aula. Ainda assim, com a fraca luz que saia do sujo rosto, ela fora capaz de reconhecer o tempo e o irmão perdido. Um brilho idêntico ao que o mendigo vira nela depois de abrir a porta.


Alguns dizem que esse brilho incolor é amizade, que ele nunca morre.


Sem ti, faltam tuas cores em mim, Jeksuruba. O nosso brilho, porém, continua. E pode ser pintado a qualquer hora. 21 de maio de 2008 é um dia que nunca esquecerei. Tuas lágrimas naquele portão à noite me mostraram um universo atrás dos óculos, me explicaram outra vez na vida por que ao mundo eu não vim à toa.

Estrelas

Os passos de dança
confusos como a vida
levam-na para passear

Voltas pelo palco
pelos aplausos
pelo suor que ainda escorria
do rosto

Sapatilhas escondiam
os calejados e esforçosos pés
triunfo da marcas feitas 
por um chão cheio de estrelas

Estrelas em toda parte,
estrelas n'alma
estrelas nos pés...........................   Estrelas que brotam
de um escuro céu.

2 comentários:

  1. Cara me emocionei muito lendo isso!! Muito lindo... Falou e disse: nossa amizade nunca irá de morrer =)

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