-Pois não, quem é? O que deseja? - ela abriu devagar.
A surpresa do encontro não fora à toa. Fazia tanto tempo desde a última vez que se viram. Era uma correria danada, essa vida maluca que cria tantos obstáculos às pequenas coisas.
-Posso te dar um abraço? - perguntou o passante.
Fazia tempo desde a última vez, embora essa exatidão não significasse o mesmo para cada um. O tempo é como o vento para o ciclista, passa na velocidade que ele ganha com as pedaladas.
- Posso te dar um abraço? - repetiu a pergunta.
Muda, ela fitava a mendiga figura com tristeza e amor. Tinha curiosidade e olhos cheios d'água. Não se lembrava de onde conhecera aquele sujeito, mas sabia que sabia quem era. Sabia que, de conhecido ele passara a estranho em curta memória.
Aceitou o abraço. O rapaz vestia trapos, cheirava mal e ainda assim, ela não percebera nada disso. Estava atenta ao rosto sujo, que lhe trazia uma inexplicável melancolia de anos atrás. Ainda agarrados um ao outro, o rapaz perguntou:
- Lembra a última vez? Também foi na porta da tua casa...
Como num estalo a memória daquele dia batera agudamente sobre a cabeça dela. O mendigo estivera ali há cinco anos. Mas não era a mesma pessoa... era?
- Tanta coisa aconteceu, minha irmã. Vim mesmo te abraçar, pequena.
Os olhos já não aguentavam a pressão das lágrimas. Do rosto dela, as gotas trouxeram os dias que passaram. Não estavam mais abraçados. O rapaz ainda falou:
-Posso te contar tudo? - tinha a voz fraca e calma, insistente.
Ela confirmou, ainda muda, perplexa. Como nos velhos tempos, os dois, duas crianças mais uma vez, sentaram na calçada. Era noite e as pequenas estrelas eram ofuscadas pela luz do poste. Por mais tarde que ficasse não se despediam. A cada minuto mais um abraço, queriam viver tudo que não fora.
Como o tempo tem essa força? Ele esconde o conhecido, revela o desconhecido... Num repente o mendigo se tornara a própria vida, vindo avisá-la da fisionomia do tempo. As cores do rosto que ela conhecera estavam pálidas, naquele rapaz magro e mal vestido. Não eram mais nítidas, muito menos vivas. Mas havia uma coisa, algo singular. O brilho nele, o rosto dele brilhava... só pode ter sido!
O brilho, mesmo que não fosse o de outrora, das brincadeiras de rua e pequenas salas de aula. Ainda assim, com a fraca luz que saia do sujo rosto, ela fora capaz de reconhecer o tempo e o irmão perdido. Um brilho idêntico ao que o mendigo vira nela depois de abrir a porta.
Alguns dizem que esse brilho incolor é amizade, que ele nunca morre.
Sem ti, faltam tuas cores em mim, Jeksuruba. O nosso brilho, porém, continua. E pode ser pintado a qualquer hora. 21 de maio de 2008 é um dia que nunca esquecerei. Tuas lágrimas naquele portão à noite me mostraram um universo atrás dos óculos, me explicaram outra vez na vida por que ao mundo eu não vim à toa.
Estrelas
Os passos de dança
confusos como a vida
levam-na para passear
Voltas pelo palco
pelos aplausos
pelo suor que ainda escorria
do rosto
Sapatilhas escondiam
os calejados e esforçosos pés
triunfo da marcas feitas
por um chão cheio de estrelas
Estrelas em toda parte,
estrelas n'alma
estrelas nos pés........................... Estrelas que brotam
de um escuro céu.
Cara me emocionei muito lendo isso!! Muito lindo... Falou e disse: nossa amizade nunca irá de morrer =)
ResponderExcluirTe amo muito!
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