sábado, junho 04, 2016

comPartido

apressei o passo
e na pressa esqueci
teus traços íntimos

vi o rosto se apagar
misturando cores
diminuindo a escada
escada diminuta
aos frouxos passos e largos

então meus pés
chegaram à saída
mas minhas mãos
não

das imagens]
apaguei lembranças
e os sons se estiraram
[meus ouvidos

a vizinhança e corredores
barulhos de jardim de infância
a cabeça meio perdida
ainda andando. andando, ainda

voltava, num retornar eterno
ao passo das horas
em teus gemidos, teus passados
teus futuros
meu futuro?

o primeiro ônibus
a segunda porta
depois do teu apartamento

esqueci onde o mar
ainda era meu
abandonei-o como casa
para ter com as portas da tua
o nada

vi a mim estirado
na imensa praia
agora vossa, barra
imensidão do só
do só após
após de ti
de ti não
não sou eu
eu fugi

quanto mais longe
ainda perto
sabedoria de tempo passado
o que nos separa
em hierarquias
e escalas
de desejo

persona da dúvida
ingênua beleza
ou polar e ambígua
insanidade?

se houve saudade
foi o que pouco senti
para tanto pensar

e se no que fomos
não mais seremos
vejo corpos virtuais
apenas pixels do que restou

de mim alguns pedaços
que vazam por aí
em mensagem inúteis
em poemas mal escritos

restos do tarô
do mundo
a aparição
do cinco de espadas
a derrota
e do cavaleiro de paus
a ambiguidade
ambígua insanidade

diabólico momento
em que só havia fuga
a perda do horizontal
estado de ser corpo na cama

uma cama, um corpo
uma cama, dois corpos
quanto possível ainda é
transformar o mundo numa cama?

senti teus cheiros
como sons
eram voz e urros
abafados de calor
eram espasmos
de pernas e mãos

perdi rastros do corpo
enquanto o encontro
carrego para o próximo

apenas sobras
quando voltarei mais
uma vez a dormir
e esquecer que meu
corpo acaba aqui

talvez contigo
com alguém
com qualquer
com ninguém

porque solidão
não se compara
é comPartida

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