caio, naufrágio
quedas livres
de tanto apreço
por teu desprezo
mas aí desvaneço
provo percalços
um asfalto
de mim mesmo
e então
meu carro corre
corre, carro
carro, corre!
seria eu
ainda em esperança
tantas perdas
difíceis de ver
e mesmo as vistas
me levam ao deboche
do mundo
sempre que cantam
ao ouvido
os prazeres
desfeitos
em neve
ou seria areia?
às vezes esqueço
onde estou
e alguns acordes
me fazem ressoar
em expectativas
transitórias
como se a janela
fosse acontecer
a qualquer momento
um Batman, um Robin
a morte mesma
em sua capa falha
ríspida fala
que não diz nada
a não ser o que ouve
sozinha
me sinto imunda
inundada de mundo
como se o que percebo
fosse transcrito
não mais a sabor
de emoções fugazes
mas talvez pela ponta
de dedos mentirosos
na falácia das teclas
ainda que possa te ouvir
é longe demais
posso entender
que não entendo
nem entenderei
o que entendido fica
no entendimento
anunciado como entendível
entender o quê?
que porra é essa
afinal eu ainda escrevo
ou só quero me livrar
de um presente,
fazendo-o presente
em meus dedos?
sentir é tão falso assim
algo que a gente brinca
inventa, desmonta e ergue?
eu mesma, tantas vezes morta
recrio a imagem possível
dos lugares por onde passei
são lugares parecidos
que me fazem passar
em busca de paisagens
de árvores, de céu
de teus acordes
e da minha dor
que em melancolia
expurga as certezas
de tanta falação
me deixe te ver
ou me ver eu mesmo
um pouco mais seco
sem sentido, nexo
meu universo
degringolado
em folhas de outono
inventadas na minha
primavera solar
se ainda desse tempo
de voltar atrás
refazer todas as coisas
elas mesmas
queria ver em filme
fingir-me expectador
das teclas do teu piano
sempre que alguém
me escreve
deixa um borrão
agudo
fingido de vida
a dor intercede
de novo
dentro dos brasões
falsos de família
e a única coisa
é pensar quão banal
posso fazê-la doer por mim
estou rindo das lágrimas
agora gargalho da morte
sempre tão frágil
vou usá-la a meu favor
falar pra quem quiser ler
que a água que desce
é fácil de enxugar
volto a música
porque preciso sentir
me parece tão arrancado de mim
uma sensação falsa de mundo
como se meu corpo atordoado
quisesse tantas respostas
não! ele está calmo
meu corpo se exprime em si
espremido como esponja
guardado nas gavetas
mais recônditas
onde nem mesmo
este blog
pode aviltar
minhas falas
silenciosas
afinal falo
pra quem?
ainda existe
alguém interessado
em vida, em coisas
que se esvanecem?
ou ainda estão todos
me fazendo preocupar
com o que posso manter?
manter o quê, caralho?
manter o quê?
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