ainda que um dia
não mais encarcerado
carregue a prisão com as mãos
dela não mais posso me despir
quando já dos teus olhos
qualquer vertigem seria muito tola
existe alguma coisa
que se dá
entre a minha morte
e a alta voltagem da vida
alguma nostalgia
ainda balsâmica
que escorre no pensamento
camadas sépias
de memórias
que reluto em esquecer
me abstenho dessa frivolidade
em que os sentidos se perdem
para guardar a imagem
o instante de vênus entre nós
aquele milésimo de segundo
que poderia ser eterno
que poderia ser morto
uma forma de adeus
que reluto apostar
nas intempéries da vida
imagens como cristais
cujos movimentos no sol
jamais cessam a dor de lembrar
queimam a carne
por olhos iluminados
num prazer soturno
ainda desconhecido
teso, so me resta erodir
como a pedra
que abandonaste
no farol solitário
era marinheiro
quando tornei a ver
a pretensão inexistente
em sábio espírito
mas agora sou o farol
guardo os marinheiros
que me perguntam por ti
digo que voltas um dia
e que esse dia nunca chega
pois tua pedra é como a ametista
pêga de surpresa, um lapso de sanidade
na embriaguez dionisíaca
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