sexta-feira, maio 04, 2018

ametista

ainda que um dia
não mais encarcerado
carregue a prisão com as mãos

dela não mais posso me despir
quando já dos teus olhos
qualquer vertigem seria muito tola

existe alguma coisa
que se dá
entre a minha morte
e a alta voltagem da vida

alguma nostalgia
ainda balsâmica
que escorre no pensamento

camadas sépias
de memórias
que reluto em esquecer

me abstenho dessa frivolidade
em que os sentidos se perdem
para guardar a imagem
o instante de vênus entre nós

aquele milésimo de segundo
que poderia ser eterno
que poderia ser morto

uma forma de adeus
que reluto apostar
nas intempéries da vida

imagens como cristais
cujos movimentos no sol
jamais cessam a dor de lembrar

queimam a carne
por olhos iluminados
num prazer soturno
ainda desconhecido

teso, so me resta erodir
como a pedra
que abandonaste
no farol solitário

era marinheiro
quando tornei a ver
a pretensão inexistente
em sábio espírito

mas agora sou o farol
guardo os marinheiros
que me perguntam por ti

digo que voltas um dia
e que esse dia nunca chega
pois tua pedra é como a ametista
pêga de surpresa, um lapso de sanidade
na embriaguez dionisíaca

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