segunda-feira, setembro 03, 2018

metamorfo

ainda que incessante
busque-me agradar de ti
algumas ondas batem violentas
numa calçada de fino concreto

arrebento a cabeça
convertendo imagens ordinárias
em símbolos de prazer
qualquer hedonismo barato
de calças curtas
ou mangas devastadas

100 empecilhos para o corpo
conjuro a plenitude inafiançável
em que pesam os ideais mortos
e as fachadas velhas dos casarões

poderia ser uma nota de 100
ainda assim um papel desbotado
rabisco nu sobre a cédula
de que me desfaço no próximo troco

mas não houve compras
sequer aludi ao mercado
ou seus produtos baratos
então montei uma vitrine

parecia romântica
a infinita luta
para impedir o rosto
que virasse mais um Dorian

juventude desertora
formando filas relapsas
amontoados de corpos perdidos
faço minha vez nessa fila

não me consola
imaginar-te a chegada
sob as marcas
de um viajante solar

pois tua proximidade
causa-me ânsia
desespero qualquer
por uma imagem melhor

então empilho desejos
numa estante empoeirada
quero saber se um dia
voltarei ao livro de poemas
ou se devo emprestá-lo
e esquecer que um dia o tive

por enquanto me aturde
a recompensa do tempo
em sua passagem fúnebre
mas invisível

a façanha de todos os problemas
consiste apenas na resistência
em te ter perto de casa
mesmo quando vem a distância

é que de tudo entendi
e infeliz não sei
se te vi em várias pessoas
ou se imergi, foquei

o cansaço aumentado
na proporção de uma fuga
pois quero poder ver o mundo
e ficar tolo antes de partir

talvez não possas dar
tanto a dúvida exige
e outra vez abandono
à sorte da poeira ou do empréstimo
o livro de cabeceira

desfazer-se nunca foi questão
há tantos livros quanto cabeceiras
histórias contadas em tortas linhas
curvas íngremes do road movie

a chatice foi a percepção do medo
logo que imaginei a ideia de dançar
uma vida inteira passando
e aí hesito de novo

como alcançar qualquer coisa
que não seja a visão supérflua?
digo alcançar-te
mesmo que pra isso joguemos

divago sobre as incoerências
assumo a intensidade de não ver
talvez porque a beleza
seja cara demais
aos que mudam de forma

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