sexta-feira, dezembro 27, 2019

poeira

cansada de ver gente rica publicando livros de poesia e
vendo meus escritos lançados à sorte de um alguém se
interessar mas que nunca vem aqui me ler ou conversar
comigo quão legítimo é um pobre escritor de gaveta cabem
os pobres na gaveta ou esta foi uma invenção bem articulada
dos endinheirados para excluir as palavras de quem às vezes tarda
e falha se o fracasso não pode ser realidade do poeta então a
miséria seja bendita do vosso papo jesus deixar pequenas
tentativas mortas que replicam faltas de desejo se os esquemas
todos armados são indefensáveis e por isso as tentativas mortas que tardam e falham
não têm vez essa babaquice de texto todo corrido quando talvez valesse
mais a pena não fazer nada e deixar livros ruins desaparecem como os malditos
papéis de gaveta que imaginam ter reservado aos vagabundos sem vez mas
ainda insisto em desânimo quando lendo poetas entre amigos ouço o riso de quem
vê poesia no enfeite da estante e na papelada do escritório se a poesia servisse
para enfeite ou entulho teria eu decidido publicar meu livro ou estaria aqui escrevendo
nas páginas obsoletas da internet ainda tento me convencer de que poesia não serve
para absolutamente porra nenhuma e se teu riso atesta essa falta talvez contemple
mais minha solidão do que os milhares de leitores com quem me tornaria poeira ou tralha

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