terça-feira, setembro 18, 2012

Ama ~ e

Beijou o rosto. Hora de dormir. Aquele “Eu te amo, meu filho. Durma com Deus” representava a desproteção amorosa mais insana que conheceria. Não tinha vergonha de devolver o carinho. Encanto verdadeiro era todo este: não ter vergonha de amar. E principal: dizer.

Independente do mau humor no dia seguinte, as declarações se cumpriam num mesmo ritual. Amo isso, mãe. Amo aquilo, filho. Outros em volta não aguentavam mais, com justificativas de doses estratosféricas de açúcar. Impossível fazê-los enxergar a ligação que se tem apenas com uma.

No lugar mais que reservado ao amor materno ainda coube o oposto complementar. Canceriana é aquela mãezona que solta mas não larga, liberta sem abandonar.  Os sermões, preocupações e todos os outros ‘ões’ dissolvem-se em frases like “quero te ver feliz”. Nasceu ela em homenagem à queda da Bastilha de Saint-Antoine. Universo sabe dos primeiros impulsos de liberdade e responsabilidade, também contrastes dela mãe.

Havia um sapeca de quatre anos em 1996 que machucava os joelhos no asfalto e voltava correndo aos prantos pra maison. Depois de todas as tardes de molecagens na rua com foguetes-sem-tabocas, o colo dela seria mais do que suficiente para apaziguar as dores. Só as calorosas enchentes de mimo salvar(iam)(am)(ão).

Anos e anos. Tão longe de onde crescera, a ligação de celular aquieta um pouco a carência do ainda sapeca. Certezas de amor do outro lado da linha são capazes de preenchê-lo por semanas. Machucados de joelho mudaram de lugar. Feridas de cachola dividem espaço com peito angustiado. Tudo ficou complexo por demais, parece. É... parece bem pouco. A mama ainda guarda a cura dele.

“Estou aqui e te amo”. Não importa a condição, o sapeca compreende. Simples pronunciar deflagra a calmaria. O refúgio é unânime. É para lá; para o coração de joanas que ele vai poder voltar. Medo, felicidade, ilusões, ira – desculpas do sapeca. Apenas quer certo e por perto.


(A)Mãe, eu te amo! Etimologicamente, a teu vocativo não haveria outra senão ser o auto referencial do teu feeling.

2 comentários:

  1. Incrível, a essência é exatamente a mesma porém a mudança é na forma de expressar. Desde o primeiro parágrafo eu já sabia quem escrevera. I like! =)

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  2. Brigado, nick, por estar lendo minhas divagações!! Beijo gigantesco.

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