quinta-feira, abril 14, 2016

paisagens surreais parte I

Estava numa casa de madeira, mais suja do que as últimas que havia visto. E bagunçada ao extremo. Nesse instante se imaginou em Engenhoca, na casa dos meninos. Olhou para os lados, mas a situação lembrava uma floresta. Misturaram-se a casa na favela e a casa do mato.

Os cômodos eram meio escuros, mas aconchegantes. Muitas prateleiras de livros e instrumentos musicais jogados pelo chão. As luzes entravam por vidraças antigas, meio quebradas, criando penumbras.

Andava por ali meio embasbacado quando se deparou com Roberta conversando com Igor. Soube que havia sido denunciada à polícia com mais uma das duas. O crime: falsidade ideológica. Ficaram os três conversando possibilidades de resolver aquilo ou fugir dali.

Igor voltara de férias da casa dos pais e trouxe um ventilador novo em folha pra mim. O presente era um aviso de que estava pensando em ir embora e largar aquela casa. Roberta estava meio triste, mas havia uma garota com ela. Gabi estava lá na casa do mato também e tinha passado a noite. As duas se amando haha

Então, antes de anoitecer, resolvi sair dali com Igor para resolver as questões legais. Peguei um carro e fui à polícia. Lá, alguns caras sádicos haviam inventado crimes para controlar meu corpo. Parecia estar perto da Universidade de Brasília. A briga foi grande e, de repente, estava fora dali. Pensava no mestrado que tinha de começar em Goiás...mas não era Bahia? A cabeça estava confusa, agora era um criminoso foragido.

Meio preocupado com tudo, peguei a estrada novamente e encontrei com Igor em algum lugar, depois deste surgir de alguma curtição de praia e afins. Igor disse que queria ir embora do Brasil e não pagaria o preço por ter falsificado apenas seu RG. A ideia era fugir para Las Vegas ou Los Angeles, mas não descartou a Europa como possibilidade. Então foram os dois ao aeroporto.

Aquele lugar era bem distante, no meio do nada. Algumas casas de praia, montanhas e um terminal que mais parecia uma daquelas indústrias inglesas do século XVIII, mas com o teto baixo e vários tijolinhos laranja na parede. Pegaram a escada rolante lá dentro e foram ao caixa comprar as passagens.

Igor estava com as duas identidades. A verdadeira, que faltava o polegar e estava vencida, e a falsificada, que a polícia descobriu por algum motivo. Enquanto isso a cidade estava no encalço de ambos. Impossível pensar como não haviam avisado os aeroportos.

Quando chegaram ao atendimento de uma das moças do caixa, avisou Igor em voz baixa: -Tu não vai conseguir enganá-la com isso, toma cuidado! - Igor fingiu que não ouviu e entregou a carteira velha, mas verdadeira. A moça abriu o papel e o transformou em papel carbonizado, mostrando que havia vencido. Então o doido falou que tinha uma mais recente e mostrou a falsa. A atendente passou uns longos minutos de tensão averiguando, até que enfim liberou a passagem. Igor decidiu ir para a Suécia ou algum lugar frio que esqueci o nome.

Sei que depois disso foram os dois ao banheiro e a bicha ia se trocar pra viagem. Entreguei a ele uma das minhas blusas de frio, brigando por ter esquecido algo importante. Sei que sentiria saudades daquela porra. Então seguimos cada um um rumo diferente.

Sai do aeroporto e não parecia mais ser criminoso. Liguei o celular e mandei um pôster de uma banda para Roberta, que projetou o efeito numa das paredes de madeira da casa. Tinha um cara de black power na capa.  Roberta parecia sozinha e Gabi não estava mais lá. Não sei se também se iria voltar.

Quando comecei a cogitar como ir embora, entendi que não sabia onde estava. O aeroporto jazia num lugar que misturava os interiores do Brasil  com as florestas temperadas japonesas. Montanhas e muitas árvores outonais, pinheiros e mangueiras. Havia um quê de mediterrâneo também. Casas de praia gigantes, algumas delas tinham movimento próprio. Uma delas parecia ser dos pais de Igor, ou um condomínio. Agora fica difícil lembrar. Mas ela tinha um movimento de leque, que fazia com que a metade da casa gigantesca encolhesse e se distendesse, como um  músculo, mas a partir dos movimentos causados pela brisa do mar. Fiquei olhando para aquilo embasbacado quando percebi estar num território de casas-fantasma da burguesia. Casas muito caras que foram engolidas pelo salitre do mar e tinham as estruturas expostas e enferrujadas. Sai dali meio  rápido com medo de encontrar algo aterrorizante. Não estava mais no aeroporto e só pensava onde ia fazer mestrado.

De repente vi numa curva diante da floresta um grupo pequeno de pessoas. Pareciam camponeses. Perguntou onde estava e se o Cohatrac IV era perto dali. Todos responderam não conhecer aquele lugar. E agora, como voltaria para casa?

Então se lembrou de uma possibilidade.

Antes de chegar às casas de praia, Igor havia ligado para ajudar. Disse que tinha uma pizzaria com molho de tomate perto do aeroporto que costumava ir com os amigos. Depois da farra eles passavam lá e pegavam um táxi barato, que num grupo de pessoas daria certo. Falei que estava sozinho e não tinha muito dinheiro, mas a bicha disse ser essa a única forma que conhecia de sair dali.

Enquanto falava com Igor vi um rapaz de sonhos anteriores. Ele parecia meio alourado com um mochilão. Tinha cabelos longos e era um pouco magrelo. Acho que era da mesma universidade ou do grupo etário dos sonhos... quando decidi ir embora do aeroporto, não o vi mais.

Algumas coisas levam a pensar que tenha saído deste sonho de ônibus, para lugares mais distantes nos confins do país.

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